terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Guerreiro

O Guerreiro sobe a montanha,
Fazendo da vida o seu rito.
Pára, sente e escuta.
Da voz do vento, o grito;
O sentimento que luta,
Vagueia no sempre infinito.
O Guerreiro caminha no mito.

Nagual

Intenso e gélido olhar,
Gesto rude, inacabado.
Monstruoso despertar,
O silêncio é terminado.

Vibra a terra acima, abaixo,
Ensurdece o bem e o mal.
Quebra o chão um longo rasgo;
Solta fúria plena e total.

Tudo pára sem aviso,
Num sereno retomar,
E do alto cai o riso,
Da Águia Negra a pairar.

Decisão

O sentido da razão
Ou a emoção sentida.
De pés assentes no chão,
Quanto vale esse instante
De certeza e medida.
De que serve a experiência
Neste turbilhão constante,
Da religião à ciência
A quem todos chamam vida.

Início aglutinador


Penso assim como quem sente,
Inundando de emoções a mente.
Visto a máscara desgastada e
Espreito ao virar novamente
A página branca riscada.

O momento é quase perfeito;
Não fosse teu olhar o meu leito,
De um rio que não tem nascente
E que corre num corpo estreito,
Que teima fugir lentamente.

Tal é o sentido da vida,
Viagem sem volta incluída.
Tempo que cessa e retorna.
Que a alma permaneça viva,
Quando a voz se ouvir, doce e morna.

Pseudo irrealismo

De que vale a verdade
Quando podemos mentir!
Tornando real o desejado,
Fintamos a insatisfação,
Sentimos o saber fingir
E congelamos a emoção
Dentro de um sonho acordado.

Sim, eu sei

Sim, eu sei…
Sei que a estrada não tem fim,
Sei que o tempo não acaba.

Sim, eu sei…
Sei que às vezes basta um sim,
Sei também sentir que tarda.

Sim, eu sei…
Sei sorrir de algo absurdo,
Sei fingir perplexo e mudo.

Sim, eu sei…
Sei ser forte e imperturbável,
Sei ser eu, só e afável.

Sim, eu sei…
Sei que tudo escrevi,
Sei que nada escapou.

Sim, eu sei…
Sei o quanto já vivi,
Sei que pouco demorou.

Voz sem âncora

Dizem que a poesia
É janela sempre aberta,
Corrente de ar contínua
Que não é quente nem fria.

Dizem do poeta
Só escreve o que não sente,
Esconde-se na palavra
E foge para parte incerta.

Dizem que escrever
É sinónimo de solidão,
Olhar para dentro do peito
Sem nada conseguir ver.

Dizem tanta coisa
Enquanto o tempo escasseia.
Não há obra a exaltar,
Nem tão pouco alguém que oiça.